Edson dos Santos Junior, que tem só 25% da visão, nunca deixou de lutar. Ao contrário, a deficiência o motivou a transformar os estudos no seu maior trunfo. Aprovado no curso de Ciências do Esporte em uma das instituições mais concorridas do País, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o jovem de 17 anos já se prepara para se adaptar à nova rotina na cidade de Limeira, interior de São Paulo.
Primogênito de um casal de deficientes visuais, o menino, ou melhor, o ‘Edinho’, como é chamado pelos mais íntimos sempre teve amor aos livros. Aprendeu a ler aos 5 anos e, desde então, não parou mais. Ele também frequentou a Biblioteca Municipal Poeta Paulo Bomfim. “Já li muitos livros. Meus autores preferidos são Machado de Assis, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Luís Vaz de Camões, José de Alencar, Guimarães Rosa, entre outros”. Edson não utiliza livros com recursos para pessoas com deficiência porque usa catral, lentes grossas para enxergar melhor, semelhante a uma lupa.
No ano passado, por causa do vestibular, dedicou-se mais aos estudos, dividindo o tempo entre aulas nos períodos da manhã e da noite (escola e cursinho). Ele prestou vestibular na UNESP – sendo aprovado na primeira fase – e também realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No Sistema de Seleção Unificada (Sisu), administrado pelo Ministério de Educação (MEC), as oportunidades foram para as federais de Santa Maria (UFSM) e da Fronteira do Sul (Uffs).
Antes de escolher o curso de Ciências do Esporte, o jovem já pensou em cursar Medicina, Ciências Sociais e Filosofia, mas foi nos últimos anos do ensino médio que teve certeza da faculdade. “No País, apenas a Unicamp tem o meu curso. É uma universidade muito procurada por pessoas de diferentes estados. Estou contente com a minha escolha”, conta empolgado. As aulas estão programadas para iniciar no dia 29 deste mês. Ansioso ele afirma: “É só na luta que conseguimos a vitória, temos que batalhar pelo que acreditamos”.
FAMÍLIA – Em casa moram quatro pessoas. Além dos pais, que também são deficientes visuais, o irmão Leonardo dos Santos, de 16 anos, tem apenas 15% da visão. A família já se acostumou com o posicionamento dos móveis, por isso não tem dificuldade de se locomover.
Os pais são funcionários públicos. O pai Edson dos Santos é formado em fisioterapia e a mãe, Maria Isabel de Oliveira Santos é professora da rede municipal de ensino há 14 anos. Ela ensina Braile para alunos com deficiência visual, e as atividades acontecem na sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Ela explica que quando os meninos eram bebês ambos tiveram que passar por uma cirurgia de cataratas – Edson aos 11 meses e Leonardo aos 4 meses. “O mais velho passou por três – cataratas e estrabismo, mas o Leo passou por cinco, sendo uma de cataratas e quatro de glaucoma. É uma doença muito triste”.
A expectativa para o início das aulas não é apenas de Edson. Isabel diz que a preocupação não é porque o filho é deficiente. “Ensinei tudo para eles. Desde quando eles tinham 6 anos de idade trabalhamos a independência dos meninos. A minha preocupação é a mesma de todas as mães, ou seja, com a violência no mundo”.
Esta semana a família visitará a Cidade para fazer a matrícula do jovem e procurar uma moradia. Segundo a mãe, o objetivo é encontrar uma residência próxima à universidade, já que Edson morará sozinho no período em que estiver estudando.
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